Direito de Família na Mídia
Fiocruz lança documentário “Crack, repensar” no Rio de Janeiro
30/09/2016 Fonte: Caminhos do CuidadoCom objetivo de ampliar o debate sobre o enfrentamento ao crack, álcool e outras drogas no Brasil, o documentário “Crack, repensar” foi lançado oficialmente na tarde da última sexta-feira (29/07), no Rio de Janeiro. O evento aconteceu na organização social Viva Rio e encerrou a programação da Semana de Comunicação promovida pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), da Fiocruz.
Produzido em 2015 em parceria com a VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz, o filme aborda questões relacionadas ao uso de crack, álcool e outras drogas, redução de danos, internação involuntária, dependência, regulação, bem como reúne depoimentos de usuários, ex-usuários, especialistas em saúde pública, acadêmicos, gestores e profissionais da área do Direito. Antes do lançamento oficial, o documentário ganhou o prêmio de Melhor Curta-Metragem pelo Júri Popular do Festival Internacional de Cinema de Arquivo (Recine-2015).
Mesa de abertura
Após a exibição do documentário, importantes atores da saúde pública que possuem ligação com o tema participaram de um debate. Entre os participantes estavam o presidente da Fiocruz e da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD), Paulo Gadelha; a assessora técnica do programa Drogas e Saúde Mental do Viva Rio, Christiane Sampaio; o diretor executivo do Viva Rio, Rubem César Fernandes; e um dos diretores do filme, Felipe Crepker. A conversa foi mediada pelo vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel.
Para Paulo Gadelha, o filme é um instrumento de alerta para que seja possível começar a reconstruir as estratégias em relação às drogas no país. Segundo o presidente da Fiocruz, o documentário tem a capacidade de reunir um conjunto de questões que vão desde o processo de construção da produção social até trabalhar com termos bastante conceituais, como processo de exclusão, o que é conceito de dependência e a possibilidade do uso abusivo do crack. “Ele consegue tratar os temas de um modo que há solidez nos conceitos, mas também tem uma capacidade de transmissão de maneira muito direta e vivencial que atinge a qualquer público”, afirma Gadelha.
Os três personagens do documentário e a abordagem de questões essenciais como abandono, vulnerabilidade, percalços de vida, relações de sofrimento e escolhas foram os grandes destaques do filme para a assessora técnica do programa Drogas e Saúde Mental do Viva Rio, Christiane Sampaio. “Esses atores foram bem escolhidos para desconstruir a lógica de que o problema do crack se estabelece igual para todos. Dentro do contexto do crack existe subjetividade”, explica Cristiane.
A assessora técnica também fez questão de se posicionar quanto ao imaginário social construído em relação aos usuários de crack e enfatizou que essa perspectiva pesa muito na vida desses indivíduos. “Qualquer profissional que trabalhe com eles consegue dizer o quanto essa perspectiva do que a sociedade diz que ele é reflete sobre o olhar que ele tem dele mesmo. Isso é de uma dor imensa, da dificuldade que esses sujeitos têm de constituir uma série de elementos de vinculação ou de proximidade. Realmente o filme contribui para um processo de reordenamento dessa lógica”, revela.
A respeito da construção do documentário, Felipe Crepker revelou que foram 30 horas gravadas que, ao final, resultou em pouco mais de 25 minutos de filme. “O documentário nasceu, na verdade, de uma frustração pessoal com algumas coisas que a gente toma como verdade e aí acaba descobrindo no decorrer da vida que não são bem assim. Em todos os lugares que a gente frequenta todo mundo tem alguma opinião, seja sobre sexualidade, racismo ou religião, e o crack é uma dessas questões”, pontou um dos diretores do filme.
Debate com o público
Após as falas da mesa, o debate foi aberto ao público. A vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nísia Trindade, falou sobre o edital no qual o filme foi escolhido e ainda deu sugestões. “Fiquei muito feliz com o resultado do nosso edital para a produção deste trabalho. Gostaria de fazer uma sugestão sobre a questão das crianças e adolescentes que não foram personagens. Fica essa minha sugestão, caso haja a continuidade deste filme. Sugiro também o uso do documentário nos espaços educativos, pois é muito importante que ele seja utilizado em sala de aula”, completou.
Da mesma forma, o diretor do Icict, Umberto Trigueiros, falou sobre a fronteira entre a ciência e a arte. “Essa é uma forma onde as duas áreas se juntam para transmitir algo e chegar às pessoas. Os três documentários vencedores do edital são filmes emblemáticos e esse vídeo de alguma maneira mostra questões que estão muito escondidas. O papel é esse, pois não adianta sempre fazermos mais do mesmo. Precisamos fazer coisas que possam romper barreiras e colocar novas questões de temas de saúde”, explica.
Em seguida, o membro da Superintendência de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Alexandre Trino, fez uma reflexão acerca das políticas que giram em torno do tema. “É uma dimensão com uma complexidade enorme e precisa ser encarada enquanto política por bases da intersetorialidade. Precisamos refletir e trazer um pouco mais à tona o desafio que é instituir uma política local, pautada pela intersetorialidade”, disse Trino.
Ele complementou seu discurso com uma reflexão sobre a estratégia de redução de danos. “O filme tem o teor de descontruir o hegemônico imaginário de criminalização do usuário e tudo que passa no nosso imaginário social. Eu acho que o documentário foi muito feliz em relação a isso. Temos que acolher essas pessoas, pautados por um conceito de redução de danos, que precisa ser mais refletido enquanto uma ética de cuidado que vai muito mais além do que apenas procedimentos parcializados”, concluiu.
Lançamento do livro “Crianças, Adolescentes e Crack”
Na mesma ocasião do lançamento do documentário, aconteceu uma tarde de autógrafos com Simone Gonçalves de Assis, organizadora do livro “Crianças, Adolescentes e Crack”. A obra, da Editora Fiocruz, reúne dez capítulos com base em duas importantes pesquisas realizadas pela instituição entre os anos 2011 e 2012: a Pesquisa Nacional do Crack e o Desafio da Rede no Atendimento de Crianças e Adolescentes Usuários de Crack e/ou Acolhidas Institucionalmente pelo Uso do Crack dos Pais/Responsáveis.